sábado, 17 de novembro de 2012

"Sete Desejos"

                 
                      


Ah se a gente soubesse de todas as sincronicidades que nos cercam e dos segredos que elas revelam. Se tivéssemos antenas para captar os recados do cosmos... Recados que depois se mostram tão transparentes e que estavam lá num passado tão recente e que não os percebemos ou que talvez apenas serviram para dar um pouco de poesia à nossa vida. E quanto valor há nessa poesia que constrói um sentido mais artístico nesse viver cotidiano que pode passar batido como uma experiência sem valor e banal. 

A poesia talvez seja o único bem realmente democrático. Há poesia na pobreza, na riqueza, no sucesso, no fracasso, na alegria, na tristeza, na decadência, na ascensão, nas perdas e nos ganhos, no amor, na solidão, na natureza, no urbano, na revolta, na resignação, na religiosidade e na falta dela, a poesia pode estar em tudo, o sentimento do poeta a tudo resiste e a tudo pode reverenciar.

Essa música que postei eu e a minha fênix tatuada na perna cantamos com um violeiro hippie numa pracinha de uma cidadezinha antiga do interior de Goiás totalmente por acaso. Aconteceu. Nem nos conhecíamos. "Recomeçando das cinzas eu faço versos tão claros, projetos, sete desejos, na fumaça do cigarro..." Ele sabia os acordes, eu parte da letra e ele as partes que eu não sabia.

"Lembro um flamboiant vermelho no desmantelo da tarde, a mala azul arrumada, que projetava a viagem. Recomeçando das cinzas vou recompondo a viagem, lembro um flamboiant vermelho no desmantelo da tarde..." Eu e meu apelido de tartaruga. Lá vai a Marcia com a casa nas costas. Não conheço alguém que tenha se mudado de casa e de cidade mais do que eu. Antes, eu e a mala de projetos. Depois, eu, a mala de projetos, os filhos, o cachorro e vamos todos pra outro lugar. A cada mudança mais uma mala arrumada  com novos projetos, a cada mudança, o ressurgir das cinzas e ciclos de renovações. Desejos que se foram e também se transformaram.

O poeta não deixou de se lembrar da "réstia de luz amarela" e afirma que agora pensa "que a estrada da vida tem ida e volta, ninguém foge do destino, desse trem que nos transporta". Muitas singelezas já vivi que não me esqueço, talvez porque, embora não saiba fazer poesia, a tenha dentro de mim. Simplicidades marcaram esse percurso tortuoso que tenho trilhado. No meio de uma tarde fresca um silêncio cúmplice, um sorvete, uma brisa e uma árvore florida. Uma gargalhada de criança, um pé sujo no sofá, um cartão no dia das mães e aquele gato sem vergonha que comia a ração da minha cachorrinha. Meu carro imundo e a trupe toda lá dentro esperando eu ir trabalhar. Uma música, um almoço de domingo, um amigo "acampando em casa". Que bom que a estrada da vida tem ida e volta. Que bom ter visto "a réstia de luz amarela".

Os dias vêm e vão, a gente segue o fluxo indo pro lado que a vida aponta com a mala azul, seguindo o trem azul, ouve uma canção dessa, se lembra de que outro dia a estava cantando na maior displicência e pensa que o destino deve ser amigo-irmão da fênix tatuada, recomeçando das cinzas, indo e vindo, para poder existir.






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