Não raramente desprezamos certos valores que são essenciais para o bem viver. Na verdade, acho que pensamos muito pouco sobre o que é realmente importante nessa vida e ocupamos muito tempo com inutilidades. Não nos empenhamos em cultivar valores que acrescentarão qualidade de vida ao nosso devir, renegamos nossas ações ao imediatismo, tão próprio desse tempo que vivemos, nos esquecendo de que, para que um dia possamos colher os frutos é necessário aguar a plantinha todos os dias. O ser humano ainda é um ser natural. Não somos industrializados nem descartáveis e penso que não deveríamos nos comportar como se fôssemos.
No texto anterior comentei sobre a alta incidência da depressão na velhice por todas as dificuldades naturais que essa vivência traz em si. Mas há muitas fases na vida que também não são nada fáceis e nesses momentos penso que as únicas saídas para não sair arrancando os cabelos e chutando as paredes são o amor na amizade e um pouco de senso de humor. Ouvi dizer que tragédias e comédias andam de mãos dadas e que os atores que desempenham bem um dos gêneros geralmente também se dão muito bem no outro.
Amizade hoje em dia é um bem de valor imensurável. Fui educada por uma mãe mineira que dizia sempre: "amigo é quem frequenta a sua casa, se não for à sua casa, não é seu amigo. É conhecido". Concordo, mas acrescento que amigo é aquela pessoa que você sente que realmente se importa com você. Tem muita gente nesse mundo que infelizmente não consegue se importar com ninguém mais do que consigo mesmo e você entra na jogada como um acessório na vida dela. Quando ela tá ótima, nem se lembra de que você existe. E quando o procura sempre é atrás de alguma coisa...
Amizade é também uma questão de amadurecimento. A pessoa precisa ter um mínimo senso de cultivo e de importância do convívio. Para ser amigo é preciso saber olhar um pouco pro lado de fora. E bem disse o Caetano Veloso que "a poesia está para a prosa, assim como o amor para a amizade". Por isso penso que nas relações amorosas deve haver muita amizade, nas relações familiares e em todas as outras, porque nenhum afeto se sustenta sem esse tipo de amor. Eu vejo muito por aí as pessoas se esquecerem de que seu grande amigo também pode ser seu filho, seu irmão, seu marido ou sua diarista. Tem gente que consegue não ser amigo das pessoas mais próximas, mais presentes na própria vida. A amizade precisa ser constantemente cultivada, para que seja sempre uma relação de parceria e cumplicidade. Às vezes a cumplicidade é tão grande que vira telepatia. Hoje mesmo vivi uma sincronicidade assim e acho que é por isso que estou escrevendo esse texto.
Quanto ao humor, é dom de personalidade e pra quem não tem, exercício de bom senso. "O que não tem remédio, remediado está". "Não adianta chorar sobre o leite derramado". Então vamos dar risada, que se a coisa não tem jeito, sempre há uma piadinha infame esperando para ser feita. Exemplinho ridículo: comprei um tênis para caminhar. Calcei inúmeros, andei pela loja e acabei escolhendo um de uma marca que eu não conhecia chamada "Skechers" que me caiu como uma luva. Saí toda feliz com a compra e meu filho que tem um humorzinho irônico olhou pro meu pé e perguntou: " - te pediram a identidade pra comprar esse tênis?" "- Não, por que?" " - Menor de quarenta anos não pode usar isso aí não, mãe..." Tenho uma tia que também é mestre em "humor etário", só que, no caso, ela o aplica à minha avó que tem 89 anos e apresenta sintomas de degenerescência senil. Minha tia faz uma piadinha atrás da outra e consegue fazer a minha avó rir de si mesma, das confusões que faz, da falta de memória, dos incômodos físicos e daquelas banalidades que constroem o cotidiano de todos nós. O humor da minha tia não deixa a velhice da minha avó ser triste nem depressiva.
Tenho uma amiga que criou uma "Lei" genial: a "Primeira Lei de Bozo". Essa lei maravilhosa resume-se em: "sempre rir". No final das contas, aconteça o que acontecer, não há saída melhor. Melhor do que ficar envergonhado, ansioso, deprimido, revoltado, com baixa autoestima, triste, melhor do "que dar murro em ponta de faca", "pra viver o melhor, sempre rir".
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