sábado, 25 de agosto de 2012

Do Ciclo Mutações à novela das nove





Tenho assistido às palestras do Ciclo "Mutações: o futuro não é mais o que era" promovido pelo SESC. Na abertura o palestrante foi José Miguel Wisnick, em seguida Olgária Matos e Sérgio Rouanet. A conversa vai longe... até o mês de outubro. Até agora, as palestras têm sido excelentes, ou excelentes pra mim, por não ter qualquer formação na área de Filosofia. Acho linda a articulação intelectual dos palestrantes e pensadores.

O fato é que muito foi dito sobre os caminhos que a humanidade percorreu para chegar no ponto onde estamos e o tema é justamente o futuro. Quando chega "no futuro" a conferência acaba. "Não é mais o que era". Pensando nisso arrisco afirmar que nem o passado e muito menos o presente. Nem nossas próprias vivências representam o que já representaram um dia, nossa perspectiva de vida provavelmente não segue àquela linearidade que um dia achamos que pudesse seguir, nossos filhos não são as crianças que tentamos encaminhar para o mundo, estamos vivos porque somos seres adaptáveis e nossa espécie se preservou justamente por esse caráter "mutante" que possuímos. É cada tombo, cada tropeço que a gente dá, que às vezes pensamos que não daremos conta, mas o tempo dá conta e seguimos em frente. Não sendo mais o que éramos a cada instante. Felizes ou infelizes, resignados ou revoltados, otimistas ou pessimistas, alienados ou questionadores, seguimos. E vamos falando sobre coisas que a gente entende e não entende: sistemas em rede, globalização, cibernética e a expansão do universo. E vamos também lamentando a falência do espírito, a degradação dos valores, a falta de liberdade que a gente não sabe por que sente, que é a dívida que move o mundo e a falta da alma nas nossas relações "pseudo" afetivas.

E aí eu saio do seminário e vejo na telinha do ônibus "manchetes" sobre o desenrolar da "Avenida Brasil" congestionada na Avenida Paulista. De novo começo a achar que "nasci há dez mil anos atrás" ou não, deveria ter nascido daqui há dez mil anos. Essa novela me assusta. E o pior é que não há nesse país nada que diagnostique melhor o comportamento da população geral que a novela. Principalmente essas que passam depois do Jornal Nacional. Eu assisto novela para entender muitas coisas. E o que foi que aconteceu? "O mamute virou merda?" E novela não só forma a opinião pública como  mostra o comportamento do povo. É por isso ele assiste, acompanha e se identifica. Meda! 

Embarquemos num papo de comadre: "Avenida Mamute". A protagonista é uma sádica, já tá dando pena da vilã. O Tufão é um tonto, o Jorginho idem. O Cadinho é trígamo documentado por iniciativa das três mulheres. Não tem um velho sábio, aliás o que é o papel do grande ator Marcos Caruso? Todo mundo engana alguém, menos a Monalisa e a crente que agora deu de se autoflagelar. A criança que não mora no lixão é obesa e tem complexo de rejeição. As que moram não têm perspectiva de vida. A Ivana com aquela vozinha de Xuxa chamando o marido "pra caminha" dá náuseas. Todo mundo que apronta se acha o máximo e os mais ou menos descentes só se ferram. A piriguete é quem mais tem caráter e joga limpo. Não tem um "amor" naquela novela. Nem precisa ir ao seminário pra se convencer de que o espírito acabou. E a trilha sonora? Começa com "oi,oi,oi"; segue pra "ai, ai, ai" e termina com "tchu, tcha, tcha".Se é que as relações viraram o que está passando na telinha, de fato não há como haver futuro. E nem precisa ser filósofo, sociólogo ou antropólogo para chegar a essa conclusão.

Realmente o futuro nunca será o que era porque ele sempre será o que nunca foi. O descartável acabou com nossa noção de durabilidade e cuidado no presente e o passado cada um armazena como consegue. Parece que estamos aprisionados num eterno instante... não com a potência que Nietzsche propôs, mas esperando qual vai ser a próxima inovação tecnológica. E dá-lhe cartão de crédito porque afinal de contas precisamos de uma motivação para trabalhar: pagar as contas.

Sempre saio do SESC meio zonza depois de ouvir e viajar na filosofia. Todo dia a mesma platéia. E as pessoas têm essa coisa canina de demarcação de território, porque já reparei que se assentam sempre nos mesmos lugares e chegam nos mesmo horários. Todo mundo já se viu e ninguém se fala nem no elevador. Desconfio de que em ambiente de intelectual, o chique é ser "blasé". Ainda bem que dá tempo de assistir "Gabriela". Rego minhas plantas, levo a cã pra passear e dou um beijo no meu filho. "Um outro futuro..."