terça-feira, 22 de maio de 2012

"Causos" de Sampa





No dia seguinte do filme do Raul, o frio resolveu dar uma trégua na cidade de São Paulo. Resolvi ir à feira da Praça da República cobrar um vendedor por ter passado meu cartão de débito duas vezes. Peguei o extrato do banco e fui. Descendo rumo ao Minhocão, me lembrei do tumulto que rolou lá, na "Virada Cultural" desse ano, que pelo visto, não "virou". Nesse mesmo Minhocão - que só quem morou no primeiro prédio acima do Metrô Marechal sabe o nojo que ele pode ficar - a Prefeitura resolveu instalar "points" de degustação de chefes famosos da cidade, na "transvirada cultural" desse ano, ao preço módico de 15 reais. A princípio, fiquei animada e o Matheus também, mas depois sentimos que não iria dar muito certo a iniciativa e nossos apetites não se abriram. Chegamos à conclusão que para nós, que conhecemos o que é o Minhocão, não daria para ter nenhuma experiência degustativa satisfatória lá. Dito e feito. Na Veja da semana seguinte publicaram no caderno local a zona que virou aquilo ali.    

Enquanto caminhava pra pegar o ônibus "Praça Ramos", ainda pensava no dia anterior e na desgrama que terminou a vida do Raul em Brasília. E eu me lembro da notícia que ele tinha morrido no show do Marcelo Nova ou do "Camisa de Vênus", enquanto eu nem me dava conta direito de quem ele era. Nessa época Raul tava um trapo, coisa bizarra de se ver, tava na cara que ia pifar e, ao invés de o internarem numa clínica que desse um "up grade" nele para que pelo menos continuasse vivo, o cara tava semimorto no palco numa turnê de 50 shows, que se transformaram nesses espetáculos grotescos, que me remetem àqueles do Coliseu, à guilhotina da Revolução Francesa e tantos outros, onde as pessoas sentem a adrenalina saltitar o corpo, pela mórbida contemplação da desgraça alheia. O cara foi morrer logo em Brasília... e eu estava lá. E segui pensando no que significa uma pessoa não dar "certo" nem pra ser "errado"...

Chegando lá o cara me reembolsou a grana sem problemas. Fui dar uma olhada nas barraquinhas e fui invadida por um grupo de senhoras (imagino que da "melhor idade" - mas abafa), que me empurrou pra longe do centro da barraquinha, tomando o meu lugar. Imagino que elas devam praticar musculação diariamente, box ou luta livre, tamanha a violência como me arremessaram do lugar que ocupava. O vendedor que me atendia imediatamente me ignorou, ao ser abordado por um grupo que se mostrou tão disposto a investir no negócio dele. Fui ver os quadros e me lembrei de experiência semelhante na PUC, uma vez que ainda nem sabia que existia a "Universidade Livre da Maturidade", muito menos que viria um dia a dar aulas lá. Estava eu atrasada para o primeiro horário da tarde, porque ainda trabalhava no Municipal até 12:30, os professores e colegas sabiam que pelo menos uns quinze minutos eu perdia do início da aula que começava às 12:45. Aí eu entrava pelo subsolo que dá de frente pra rua do prédio da pós graduação e nesse dia estava carregando partituras, livros e meu notebook que é um chumbo porque participaria de um Seminário. Esbaforida para não prejudicar os colegas que já tinham iniciado o Seminário sem mim, tinha duas opções: ou pegar o elevador e subir cinco andares ou encarar a pé a rampa. Peguei um taxi e o elevador, até por causa do peso, mas ao atingir o térreo, fui repreendida por um grupo da "Universidade Livre" que me olhou tão feio quando apitou o limite de peso do elevador, que entendi que havia uma "linha preferencial" para eles naquele horário. Saí do elevador, dando o lugar para as "senhôras" e aproveitei para gastar umas calorias até o quarto andar. Naquele dia senti saudades do tempo de gravidez onde não pegava fila nos bancos, me cediam o assento  dos ônibus e sempre me arrumavam rapidamente uma mesa nos restaurantes. E me lembrei também do Thiago, meu filho, que numas férias foi "cuspido" do metrô da Sé. Na hora em que o metrô parou, uma multidão o empurrou de uma porta expulsando-o para fora do trem pela outra, que ficava do lado oposto à que ele tentou entrar. A gente dá risada quando se lembra dessas coisas.

No meio das tendinhas que prometiam "trazer seu amor de volta em 7 dias", "descobrir seu futuro" e outras coisas dessa natureza, tinha um velhinho sem clientes em baixo de um guarda sol com uma plaquinha escrito: "BENZE". Me lembrei que de vez em quando minha avó e minhas tias me levavam para ser benzida na infância. Eu acho que elas acreditavam em "mau olhado" e tinham medo que me "mau olhassem", porque elas me achavam o máximo. E de fato, na infância eu fui uma garotinha linda, esperta e não nego que quando vejo minhas fotos até os cinco anos de idade, sinto que havia uma luz mesmo naquela criança. Fiquei um tempão papeando com o velhinho, hábito que venho cultivando há algum tempo e paguei a "benza". Tava lá na feira um quadro que há muito tempo atrás tinha me apaixonado e ele incrivelmente continuava ali... Como desconfio que tanto pedras, como animais e obras de arte escolhem seus donos, não vacilei e tive a certeza de que aquele havia sido pintado pra mim. Fiquei pensando na repreensão do Matheus quando chegasse em casa, porque o "básico" estava faltando, mas ir ao supermercado ele também pode e esse seria meu argumento além do que, para prevenir, levei dois marmitex de yakisoba pra ele. "Show de bola o yakissoba, mãe... Lindão esse quadro aí..." (...) (!)

E por falar em obra de arte, para minha querida amiga Soren que acompanha esse modesto Blog da Austrália (uma honra), aqui em São Paulo, a Prefeitura transformou os orelhões em objetos de apreciação estética nas mãos de diversos artistas plásticos. Tem uns que ficaram geniais, lindos mesmo. Gostei mais do que das vacas, porque para quem não sabe, teve uma época em que espalharam um monte da vacas coloridas pela cidade. Foi legal também, divertido. Agora eu quero ver se esses orelhões lindésimos continuarão a ser assediados pelas etiquetinhas do mercado ainda paralelo, daquela profissão que costumam dizer que é a mais antiga do mundo. Confesso que já dei risadas com esses anúncios, principalmente quando coincidia do nome do anunciante ser o mesmo de alguém conhecido. E tem uns "produtos" que até hoje não faço a menor ideia do que podem significar. Perguntei a algumas pessoas próximas mais bem informadas que eu sobre o assunto e não sei se, por vergonha em assumir que sabiam, disseram que também não sabiam do que se tratava. Uma "parada giratória" ainda é um grande mistério pra mim...

E para terminar esse texto sobre assunto nenhum, depois dos dois passeios ao ar livre no frio, amanheci ontem acamada e com febre. Mal meu "zoi" conseguia abrir e aquela sensação de quem perdeu uma luta de UFC por nocaute. De noite eu tinha que sair de qualquer jeito. Minha cadelinha precisava comer e eu também e no caminho, um senhor já bastante idoso e meio "chumbadinho" se encantou com Tininha. E eu, com esse hábito de respeitar, investigar e ser condescendente com pessoas mais velhas, deixei ele lá um pouco acariciando o pelo dela. Às vezes eu me ferro com essa de dar trela só porque a pessoa é idosa. Daí ele disse: "a melhor essência de um ser humano é aquela que se assemelha à essência de um animal..." "Naussaaa..." Bela lição de "filosofria" porque a "fria" veio logo depois. Com um "olhar à Clark Gable", o digníssimo senhor soltou: "... e a verdadeira essência de uma mulher é saber afagar a alma de um homem..." TOMA, MARCIA DEGANI!     






  

     





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