Há muito tempo penso que há dois tipos de pessoas neste mundo: as que têm e as que não têm coração de mãe. A maternidade em si não garante o instinto materno. Muitas pessoas, homens inclusive, pensam e sentem como mães, trazem em si o que eu chamaria de instinto materno.
É claro que ter um filho muda a vida de muita gente, desperta o senso de responsabilidade por ter posto mais uma vida nesse mundo e isso muda o comportamento, a forma de agir e de ver o mundo. Muda também, principalmente, a visão que temos de nossas próprias mães e pais.
Maternidade e paternidade são questões psicanalíticas. São vínculos tão viscerais que atingem esferas atemporais. Essas questões nos acompanham vida a fora, são fatores determinantes de nossos comportamentos, da nossa forma de ser e agir no mundo. Depois que somos mães passamos a viver os dois lados da moeda: as dificuldades que temos em sermos filhos e em termos filhos. Quando essas relações estão internalizadas nunca mais conseguimos pensar em nossas vidas de uma forma egoísta, pois somos o elo de uma cadeia de raízes e frutos. Simplesmente não há como estarmos bem se nossas raízes e nossos frutos não vão bem.
O pensamento de quem tem o coração de mãe é aquele que sempre vai além de si mesmo. É aquele que nunca se vê como uma singularidade e sabe que suas ações terão um impacto no todo. Coração de mãe calcula até onde pode ir com seus individualismos, suas vontades particulares, porque sabe que as suas ações trarão consequências na vida dos seus, sejam elas boas ou más.
Vejo mães em todas as partes adaptando suas vidas para se adequarem da melhor forma à vida dos filhos e muitas vezes me comovo, porque sei que na cabeça da mãe, isso nem é visto como um sacrifício. Os primeiros anos de vida de uma pessoa exigem muito mais que dedicação e lá estão mães, pais, tios, tias, avós e tantos corações de mãe abrindo mão do seu próprio tempo e conforto, do seu próprio alimento, do seu sono, do descanso, de todo o tempo livre, pelo amor mais abnegado e verdadeiro.
O instinto de sobrevivência também acompanha as ações das pessoas que trazem em si esse coração. Todas as probabilidades de proteção para os mais frágeis povoam a mente dessas pessoas, desde os cuidados físicos até os psicológicos e sociais. Talvez o que eu esteja tentando dizer é que ter coração de mãe é ter o instinto de proteger os mais frágeis.
Muitas pessoas gostam de comparar velhos com crianças, mas isso está muito longe de ser uma verdade. O velho não pode ser educado como uma criança, ele tem uma história e o seu temperamento já foi solidificado. Não é fácil lidar com idosos, eles não são mais produtivos, normalmente o convívio é difícil, necessitam de cuidados, muitas vezes não querem receber cuidados, são teimosos, muitas vezes depressivos. Mas não podemos nos esquecer de que eles já foram pais e mães, que criaram filhos e netos, que ajudaram a cuidar de sobrinhos e enteados e que não podemos ter a memória curta. Há um momento nessa vida em que se deve sair do imediatismo para se fazer valer a história.
Meu Feliz Natal é para todas essas almas preocupadas e cuidadoras, esses tão preciosos e generosos corações de mãe.
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