Neste último domingo fiquei assustada ao assistir a reportagem do Fantástico que anunciou o aumento e mostrou casos muito tristes de violência ao idoso. Quem assistiu ao noticiário pode ver a situação daquelas pessoas. Nem cabe aqui comentar o tamanho da crueldade e da covardia mostrados naquela matéria. Um verdadeiro absurdo. Um fato ficou muito claro: infelizmente aumenta-se o descaso, a indiferença, o desrespeito, o abandono e os maus tratos para com os mais velhos na sociedade em que vivemos.
Ontem ao passear pelo facebook me chamou a atenção uma postagem que anuncia que o SUS do Estado de São Paulo no intervalo de um ano aumentou em 54% a administração de Ritalina para crianças com Transtorno de Défcit de Atenção e Hiperatividade. Tomei um susto. Quem e como foram diagnosticadas as crianças? E aonde e em que condições elas vivem e estudam? Tenho um filho ambidestro (para quem não sabe, a alfabetização de um ambidestro é mais confusa que a do "canhoto" e a dupla dominância cerebral prejudica a concentração da criança, sem contar outras inúmeras particularidades) que ainda foi estrábico na fase de alfabetização e que escapou por pouco desse diagnóstico. Sei que não há exame laboratorial para objetivá-lo, é um procedimento embasado em testes nos quais o estado emocional pode interferir. Diagnosticar TDAH é no mínimo um processo delicado. Quantos inúmeros fatores influenciam para que uma criança não consiga se concentrar em sala de aula? Aí eu ainda fiquei pensando que o SUS deve atender crianças que estudam em escolas públicas e me lembrei da situação do ensino público no Brasil...
A Organização Mundial de Saúde tem alertado diversos países, inclusive o nosso, em relação ao uso abusivo de drogas lícitas que podem ser prescritas por médicos, principalmente tranquilizantes, sedativos, analgésicos e estimulantes. A tal da Ritalina é conhecida como "droga dos concurseiros" ou "droga da obediência" por induzir, em tese, à concentração. Então estamos precisando tomar remédio para dormir, para acordar, para ter concentração, para melhorar o desempenho sexual, para acalmar nossas crianças, obtermos delas bom desempenho na escola e para que mais? Além dos medicamentos, quantas muletas temos à nossa disposição? E se estendermos esse assunto para todos os tipos de vício?
O que eu estou querendo dizer misturando isso tudo? Estou querendo dizer que acho que estamos ficando cada vez mais inaptos para lidar com as fragilidades que são próprias dos seres humanos em todas as suas manifestações a partir das nossas próprias. Ficamos tão deslumbrados com as vitrines, os "fakes", os "fast foods" e os descartáveis que queremos nos iludir de que as relações humanas não precisam de investimento, zelo e cultivo. Estou querendo dizer também que somos muito facilmente seduzidos por válvulas de escape de todas as espécies que nos proporcionam um afastamento temporário da realidade, mas o que é real permanece latente e os problemas acumulados quando ignorados uma hora eclodem como um vulcão. Nos acostumamos com o imediatismo, perdemos a paciência, o comprometimento, queremos que as pessoas funcionem como produtos prontos, feitos sob medida e aí está o que acontece com os velhos e com as crianças. Reflexo da dureza, do egoísmo, do narcisismo e da intransigência, que sempre rebate mais fortemente nos mais vulneráveis.
Sempre falo de protegermos os mais frágeis, do carinho que sinto pelos idosos e alerto sobre a responsabilidade que temos em cuidar deles. Mas para que isso aconteça é primordial repensarmos nossa postura em relação à nossa própria sanidade física, emocional e mental. Sejamos mais cuidadosos e responsáveis em primeiro lugar conosco, a partir das nossas escolhas, atitudes e sobretudo, com o nosso modo de viver e nos relacionar.
Sempre falo de protegermos os mais frágeis, do carinho que sinto pelos idosos e alerto sobre a responsabilidade que temos em cuidar deles. Mas para que isso aconteça é primordial repensarmos nossa postura em relação à nossa própria sanidade física, emocional e mental. Sejamos mais cuidadosos e responsáveis em primeiro lugar conosco, a partir das nossas escolhas, atitudes e sobretudo, com o nosso modo de viver e nos relacionar.